quinta-feira, 4 de junho de 2009

Gente, vou postar as aulas do professor Davius.


(1ª Aula)
COMUNICAÇÃO APLICADA
Comunicação nas organizações
(Margarida KUNSCH, em “Planejamento de Relações Públicas na Comunicação Integrada”)

CONCEITO DE ORGANIZAÇÃO
Do grego: organon (órgão)
Dois aspectos amplamente trabalhados pela maioria dos autores:

● Ato e efeito de organizar, função da administração.
● “organização” como expressão de um agrupamento planejado de pessoas para o alcance de objetivos comuns.

Os racionalistas concebem as organizações como estruturas racionalmente ordenadas e destinadas a fins específicos.

Os organicistas vêem as organizações como organismos sociais vivos, que evoluem com o tempo.


CONCEITO DE ORGANIZAÇÃO

Para Alexandre Mattos:
Organização significa estudar órgãos e sobre eles agir; agir sobre empresas, instituições e os empreendimentos humanos, com o objetivo de torná-los mais eficazes e eficientes (maximizar sua energia e minimizar seu esforço).
Significa também um órgão, um instrumento pelo qual um ato é executado ou um fim é alcançado.


Para Idalberto Chiavenato:
Organização: unidade ou entidade social, na qual pessoas interagem entre si para alcançar objetivos específicos.
Como função administrativa, é parte do processo administrativo. Organizar, estruturar e integrar os recursos e os órgãos incumbidos de sua administração e estabelecer relações entre eles e atribuições de cada um.

CONCEITO DE ORGANIZAÇÃO
O termo ganhou significado mais avançado em nosso tempo. Antes referia-se a empresas e instituições, sociedade, tribo, comunidade e família.
Hoje, agrupamentos de pessoas que se associam para trabalhar em prol de objetivos comuns.
Não há mais organização em si, mas dada em um determinado contexto.
Pois as organizações são formadas por pessoas, que carregam consigo a sua subjetividade.
Por isso a cultura organizacional é tão importante (parâmetros e padrões internos).

TEORIA DOS SISTEMAS
Sistema é um complexo de elementos que se relacionam entre si de forma estável, durante algum período.
Fritjov Capra fala em uma ciência geral da totalidade. Ou seja, os fenômenos da natureza não podem ser completamente compreendidos pelas partes, mas sim pelo todo.
Assim, as organizações precisam ser vistas como unidades multidisciplinares, e não fragmentadas em setores. O mesmo vale para a comunicação organizacional, que precisa ser vista de forma integrada.

ADMINISTRAÇÃO SISTÊMICA
Antonio César A. Maximiniano pensa o enfoque sistêmico das organizações. Diz:

“A administração científica tradicional focaliza apenas a eficiência do sistema técnico e relega as pessoas para segundo plano.

“Já a escola de relações humanas, ao contrário, enxerga apenas o sistema social e deixa a tarefa em segundo lugar.

“A administração sistêmica propõe uma visão integrada. As organizações são sistemas sociotécnicos.”

ADMINISTRAÇÃO SISTÊMICA
Além dos sistemas social e técnico, acrescentem-se mais dois: o tecnológico e o gerencial.
A organização é, enfim, subsistema de um sistema maior, a sociedade, um sistema aberto.
É uma microssociedade que opera nas mais diversas dimensões sociais, econômicas, políticas e simbólicas, devendo ter como bússola uma perspectiva holística.


TEORIA GERAL DOS SISTEMAS
Ludwig Bertalanffly, em “Teoria Geral dos Sistemas” (1977), considera a TGS uma nova disciplina científica.
“Seu objeto é a formulação de princípios válidos para os sistemas em geral, qualquer que seja a natureza dos elementos que os componham e as relações ou forças existentes entre eles.
“Assim, a TGS é considerada uma ciência geral da “totalidade” e pode ser aplicada às teorias das organizações.”


ORGANIZAÇÕES TRADICIONAIS Economia de escala e estrutura vertical. Modelo predominante até os anos 70.


Taylorismo

Em 1911, o engenheiro americano Frederick W. Taylor publica “Os princípios da administração científica”, propondo intensificação da divisão do trabalho.
Tarefas ultra-especializadas e repetitivas. Diferenciar o trabalho intelectual do trabalho manual. Controle sobre o tempo gasto em cada tarefa e um constante esforço de racionalização, para que a tarefa seja executada num prazo mínimo.
Idéia de que o trabalhador que produzisse mais em menos tempo devesse receber prêmios como incentivos.

Fordismo

O norte-americano Henry Ford é o primeiro a por o taylorismo em prática, na “Ford Motor Company”.
Radicaliza seus princípios, organizando a linha de montagem de cada fábrica para produzir mais, controlando melhor as fontes de matérias-primas e de energia, os transportes, a formação da mão-de-obra.


Adota três princípios básicos:

1) Princípio de Intensificação: diminuir o tempo de duração com o emprego imediato dos equipamentos e da matéria-prima e a rápida colocação do produto no mercado.
2) Princípio de Economia: reduzir ao mínimo o volume do estoque da matéria-prima em transformação.
3) Princípio de Produtividade: aumentar a capacidade de produção do homem no mesmo período (produtividade) por meio da especialização e da linha de montagem. O operário ganha mais e o empresário tem maior produção.

TOYOTISMO (anos 1970)
Surge o toyotismo (modelo de administração e gestão da Toyota). Influência japonesa. Seus objetivos supremos: mais eficiência, mais qualidade, menos desperdício.

Para Manuel Castells, o toyotismo é a transição entre a produção em série e o trabalho mais eficiente, baseado em treinamentos e participação dos trabalhadores.

Objetivos: diminuir escalões hierárquicos; estimular a participação do trabalhador; fomentar a qualidade total, o comprometimento, a flexibilidade na gestão e na produção.

A gestão vertical dá lugar a um modelo horizontal, baseado em um sistema de produção flexível, idealizado para reduzir incertezas.

Castells: “Essa nova organização desce do pedestal da burocracia verticalizada para atuar em rede, organizar-se em torno de processos, não de tarefas.

As novas referências trazidas por essa visão de gestão:

● É preciso mensurar resultados de satisfação
● Informar / formar os empregados
● Descentralizar o poder e incentivar a participação de todos
● Coordenar em vez de ordenar


O MELHOR MODELO EXISTE?

Margarida Kunsch conclui que nenhum desses modelos provou-se como o melhor e sugere buscar-se um equilíbrio entre eles.

Nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

A COMUNICAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO

A Comunicação é vital para a organização.

Todos os elementos de uma organização informam e são informados ininterruptamente para a sua própria sobrevivência.

O sistema comunicacional também é o responsável pelo relacionamento da organização com seu meio externo.

O sistema comunicacional que consiga gerar sintonia entre o interior e o exterior de uma organização proporcionará equilíbrio e o surgimento de mecanismos de crescimento organizacional.

O processo comunicacional estrutura as convenientes ligações entre o microssistema (interno) e o macrossistema (externo), o social; estuda a concorrência; analisa as pressões do ambiente etc.

Por isso cabe sobretudo à Comunicação criar condições para o aperfeiçoamento da organização.
Richard Hall – a Comunicação é extremamente importante nas organizações e nos segmentos organizacionais que precisam lidar com a incerteza, que são complexos e que têm uma tecnologia que não permite uma rotinização fácil.


PROCESSO COMUNICATIVO NAS ORGANIZAÇÕES
Acostumamo-nos a pensar a Comunicação segundo esse esquema:

Fonte / emissor à código / língua à canal / meio à mensagem / conteúdo à receptor

Mas o receptor também é SUJEITO no processo de comunicação. Ele reage e reconstrói a mensagem. E isso muda tudo.

Fonte / emissor à código / língua à canal / meio à mensagem / conteúdo à receptor feedback / retroalimentação

É preciso pensar em uma comunicação orquestral. Alguém coordena, mas inúmeros agentes compõem o processo.
O aspecto relacional da comunicação afeta todo o processo.
Na empresa, trata-se de um processo entre indivíduos, departamentos, unidades e organizações (entre a “sua” empresa e as demais...). Esse processo sofre interferência e condicionamentos diversos, dados os diferentes tipos de comunicação, que atuam em distintos contextos.
A comunicação organizacional tem de ser pensada numa perspectiva dinâmica da história.

COMUNICAÇÃO SOCIAL – Revendo parâmetros teóricos…

INDÚSTRIA CULTURAL – Teoria Crítica. Visão segundo a qual os meios de comunicação de massa estão a serviço de uma intenção ideológica determinada e do sistema econômico vigente.

Estrutura e superestrutura – premissas marxistas. Espaço, tempo, imaginação.

Dessublimação da arte e manipulação cultural.

Produção em série X original.

(Obra de referência: “Dialética do Esclarecimento”, ADORNO, Theodor, e HORKHEIMER, Max, fundadores da Escola de Frankfurt).

INTEGRADOS – Visão positivista e mais funcionalista da história (a vida é como é por conta de forças naturais, da vontade da maioria, da vontade do mercado).

O modelo: “5 Qs” – quem / diz o quê / a quem / por que canal / com que efeitos.
A padronização da informação e dos costumes é necessária por conta da necessidade de alcance, de democratização dos conteúdos.

(Obra de referência: “Apocalípticos e Integrados”, ECO, Umberto.)
DO CONFLITO
Do suposto conflito entre os saberes técnicos e a crítica social nasceu uma esquizofrenia.
Não se aproveitaram nem as contribuições da Escola de Frankfurt, nem as da semiótica.
A idéia da inevitável manipulação do sistema (crítica frankfurtiana) resultou em quê? A crítica legitimou a fuga (da discussão e da sua superação).


COMUNICAÇÃO SOCIAL – pontos de vista referenciais

POR UM NOVO CAMPO – BARBERO, Jesús Martin.

● Quanto à Teoria Crítica (indústria cultural) dos frankfurtianos:

Por que não aceitar a pluralidade estética (jazz, por exemplo)?

Investigação não a partir de um ponto de vista fixo (a “verdade”), mas de uma realidade compreendida como descontínua.

Idéia de uma resistência cultural – as sociedades reagem!

● Quanto à visão tecnicista do mundo:

Pensar a Comunicação a partir da cultura, e não da tecnologia.

Assim, fazer frente ao pensamento instrumental que tem dominado o campo da comunicação desde o seu nascimento e que hoje se autolegitima sobre o otimismo tecnológico a que se acha associada a expansão do conceito de informação.


FUTURO (BARBERO)

A mediação tecnológica da Comunicação deixa de ser meramente instrumental para se converter em estrutural.
As mudanças no âmbito da tecnicidade e da identidade reclamam que se pense as mediações comunicativas da cultura, um novo mapa que dê conta dessa complexidade.

Necessário enfrentar o pensamento único que legitima a idéia de que a tecnologia é hoje o grande mediador dos povos. O que a tecnologia faz hoje é acelerar a transformação da sociedade em mercado.
A questão é: como os estudos em comunicação estão traduzindo os desafios e a sensibilidade que esses cenários apresentam? Como se relacionam pesquisa e mercado?

O comunicador como intelectual

“É nítida a demanda social por um comunicador capaz de enfrentar os resultados do que o seu próprio trabalho põe em jogo e as contradições que atravessam a sua prática.

“É o que constitui a tarefa do intelectual: lutar contra o assédio do imediatismo e o fetiche da atualidade.” (Barbero)

(Obra de referência: “Ofício de Cartpografo, BARBERO, Jesus Martín)


A perda do espaço da comunicação
(Vilém Flusser)
Vilém Flusser descreveu o processo de perda crescente das três dimensões do espaço de comunicação do homem.

Da comunicação corporal – Tridimensional, para a
Comunicação por imagens – Bidimensional, para a
Comunicação pela escrita – Unidimensional, para a
Comunicação digital – Nulodimensional, imaterial (nenhuma dimensão)

O homem começa agora a fazer o caminho de volta, a reconstruir virtualmente as outras dimensões, diz Flusser.


(Norval Baitello Jr.)
“Muitos são os nomes da incomunicação e muitos são os espaços em que está inteiramente à vontade. E é inútil pensar que ela age somente em surdina, nos bastidores e em silêncio. Sobretudo nos excessos é que ela se faz presente. No excesso de informação, no excesso de tecnologia, no excesso de luz, no excesso de zelo, no excesso de visibilidade, no excesso de ordem.
“Vivemos (e morremos) nos excessos do tempo e no tempo dos excessos. Os excessos do tempo trazem, por um lado, a aceleração, o estresse, a pressa, por outro, a desocupação, o desemprego, o tempo esvaziado.”


As irmãs gêmeas: comunicação e incomunicação (Norval Baitello Jr.)

“Quanto mais se aperfeiçoam os recursos, as técnicas e as
possibilidades que o homem tem de se comunicar com o mundo, com os outros homens e consigo mesmo, aumenta também, em idêntica proporção, as suas incapacidades, suas lacunas, seu boicote, seus entraves ao mesmo processo, ampliando um território tão antigo quanto esquecido, o território da incomunicação humana.
“Assim, andam de mãos dadas e crescem juntas, como irmãs gêmeas, a comunicação e a incomunicação.”

“Quanto mais ressaltamos e nos orgulhamos dos bons serviços e das qualidades da comunicação, mais a incomunicação ganha força e ousadia, provocando estragos, desfazendo e desmontando, distorcendo e deformando, semeando discórdia e gerando falsas expectativas, invertendo sinais e valores, azedando as relações e produzindo estranhamentos incômodos.”
“Vivemos (e muito mais morremos) no tempo dos superlativos e das megalomanias da era do ‘verticalismo’. A obsessão da vertical transformada em vida e da vida transformada em vertical impõe a cada um de nós uma luta permanente em direção ao mais alto. Embora o mais alto seja o nada, o vazio, o inóspito, o inabitável espaço; embora o mais alto seja a condição inalcançável dos deuses e dos seres celestiais imaginários, imateriais, sem corpo e sem humanidade, portanto, sem vida.”
“Transformamos assim nossas vidas em uma linha vertical de aspirações e buscas abstratas. E medindo nossas vidas pela altura que alcançamos. Talvez seja o verticalismo a obsessão mais poderosa do nosso tempo. E seus efeitos, devastadores por duas grandes razões.
A primeira: a demolição da corporeidade e dos espaços que a abrigam; isto quer dizer, a destruição da realidade tridimensional por meio da transformação dos corpos em abstratos traços verticais.
A segunda razão: a perda dos vínculos com o outro ser ao lado (uma vez que os vínculos elementares que constituem nossa natureza humana são necessariamente horizontais); isto quer dizer, a renúncia à capacidade de comunicar-se, abrindo os espaços para a livre escalada da incomunicação.”

(Obra de referência: “Meios da Incomunicação”, BAITELLO, Norval)

“Teríamos que nos perguntar se essa redução drástica do espaço externo da comunicação, dos vínculos sociais, dos horizontes e das horizontais da sociabilidade, não estará correspondendo a uma redução dos espaços internos, a um estreitamento da comunicação consigo mesma.
“Se estiver acontecendo esse temível estreitamento interno, estaremos diante de uma dupla manifestação dos efeitos devastadores da incomunicação. Estaremos cortando nossos vínculos com os outros seres e estaremos cortando os vínculos conosco mesmos, vale dizer, estaremos rompendo os vínculos com o nosso passado e nossas histórias, com o nosso futuro e nossos sonhos.
“Mas, o que fica no lugar dos vínculos rompidos? Ficam os fantasmas dos vínculos. A eles é que damos o nome de 'incomunicação'.”


PROCESSO COMUNICATIVO NAS ORGANIZAÇÕES

“Comunicação não é o que se diz, mas o que o outro entende.”
(Duda Mendonça, publicitário)

É preciso pensar em uma comunicação orquestral. Alguém coordena, mas inúmeros agentes compõem o processo.
O aspecto relacional da comunicação afeta todo o processo.
Na empresa, trata-se de um processo entre indivíduos, departamentos, unidades e organizações (entre a “sua” empresa e as demais...). Esse processo sofre interferência e condicionamentos diversos, dados os diferentes tipos de comunicação, que atuam em distintos contextos.
A comunicação organizacional tem de ser pensada numa perspectiva dinâmica da história.

INCOMUNICAÇÃO (BAITELLO Jr., Norval)
“Muitos são os nomes da incomunicação e muitos são os espaços em que está inteiramente à vontade. E é inútil pensar que ela age somente em surdina, nos bastidores e em silêncio.

“Sobretudo nos excessos é que ela se faz presente. No excesso de informação, no excesso de tecnologia, no excesso de luz, no excesso de zelo, no excesso de visibilidade, no excesso de ordem.

“Vivemos (e morremos) nos excessos do tempo e no tempo dos excessos. Os excessos do tempo trazem, por um lado, a aceleração, o estresse, a pressa, por outro, a desocupação, o desemprego, o tempo esvaziado.”

CRIATIVIDADE (OSTROWER, Fayga, “Criatividade e Processos de Criação” – ed. Vozes)

● A natureza criativa do homem se elabora no contexto cultural.

● O consciente como fator negativo para a criação (repressão à criatividade espontânea).

● Modo racionalista e reducionista como forma de ver a vida inibe a criatividade.

● A alienação do homem de si mesmo.

● Em vez de se integrar como ser individual e social, o homem sofre a desintegração, tal o bombardeiro de demandas, informações e papéis exercidos.

● Aliena-se da possibilidade de criar e realizar conteúdos mais humanos em sua vida.

● Criar é dar forma nova a algo, formar.

● A sensibilidade é a porta que nos conecta ao ambiente, como qualquer espécie.
● A maior parte da sensibilidade permanece vinculada ao inconsciente.
● A parte de que chega ao nosso consciente se transforma no que chamamos de percepção, que abrange a nossa capacidade intelectual (elaboração mental das sensações).
● O homem é um animal cultural desde os homínidas. Essa foi a condição que o destacou dos demais primatas. “Capital cultural” (símbolos, memória).

● Nessa integração de potencialidades individuais com possibilidades culturais, a criatividade é a própria sensibilidade.

● O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem.

● Os caminhos por meio dos quais esse potencial se desenvolve podem cristalizar-se, mas a criatividade, como potência, se refaz sempre.

● Tensão psíquica – a criatividade implica uma força crescente. Ela se abastece nos próprios processos através dos quais se realiza. Revonação constante.

● A tensão psíquica, similar à tensão física, é uma vitalidade elementar e preexistente ao agir. Essa tensão é determinante nos processos criativos.

● O conflito é a condição do crescimento (dialética).


“A imaginação é mais importante que o conhecimento.”
(Albert Einstein)



(2ª Aula)
Metodologia do Trabalho Científico
SEVERINO, Antônio Joaquim
(“Diretrizes para elaboração de uma monografia científica”, capítulo V, em “Metodologia do Trabalho Científico”, ed. Cortez, SP, 2005 – p. 73-131)


Pensando a sua monografia...
Não se pode conceber um trabalho científico ao sabor da inspiração intuitiva e espontânea, sem obediência a um plano e aplicação de um método.

• Determinação do tema-problema;
• Levantamento da bibliografia referente a esse tema;
• Leitura e documentação dessa bibliografia, após seleção;
• Construção lógica do trabalho;
• Redação do texto.

1) Etapas da elaboração:
1.1) Escolha do tema a ser abordado.
Delimitação do tema, para diferenciá-lo de possíveis outros temas (sujeito a expansão ou restrição futura).
Se o trabalho é acadêmico, precisa abrir caminho para a pesquisa positiva, bibliográfica ou de campo, sob pena de se tornar, no final, pura criação mental do aluno.
Recorrer a temas já trabalhados, mas sob outra perspectiva, oferece a possibilidade de se trazer à tona outros autores, que ajudem a “legitimar” a nova produção intelectual.

Problema
Necessário definir o problema. Sem ele, não há raciocínio a ser desenvolvido.
Toda a argumentação, todo o raciocínio desenvolvido em um trabalho visa a responder a determinado problema, aquele que “eu” mesmo “me” apresentei como um desafio à explicação lógica.
Estabelecer qual o problema a ser respondido equivale a dizer qual será, enfim, o trabalho a ser realizado.


Hipótese
Colocar claramente o problema desencadeia a necessidade de se propor a formulação de uma hipótese geral a ser comprovada no decorrer do raciocínio.
Ao verificar que essa hipótese é o caminho para solucionar o problema estabelecido, tem-se uma tese, que será assumida e defendida até que se demonstre a adequação da hipótese apresentada para responder ao problema.

Enfim...
A determinação do tema, do problema, da tese deve anunciar e garantir o caráter monográfico do trabalho.
Isso significa que o trabalho deverá ater-se ao aspecto tratado. Quanto mais científicos forem os trabalhos (como em dissertações de mestrado e teses de doutorado), mais restritivos deverão ser os textos.


Portanto, há três fases:
a) Invenção, intuição, descoberta e formulação de hipótese, fase eminentemente lógica, em que o pensamento é provocador;

b) Pesquisa positiva, científica, experimental, de campo e/ou bibliográfica (nessa fase, o espírito é posto diante dos fatos, de outras idéias. Esse confronto ajudará a fortalecer – ou enfraquecer – a hipótese escolhida: idéias são reforçadas ou reformuladas... Ou seja, a primeira formulação da hipótese é temporária, a ser confirmada);

c) Definição do trabalho. Uma vez amadurecida uma posição, então precisa-se estar de posse de uma segunda formulação, que confirme ou altere a primeira.

Nesse momento, o objetivo é o de transmitir uma mensagem, comunicar um resultado.


1.2) Levantamento da bibliografia
Como técnica, ela tem o objetivo de descrever e classificar os livros e documentos similares, segundo critérios, como autor, gênero literário, conteúdo temático, data de publicação etc.

Permite, a qualquer outro leitor / observador do trabalho, reconstruir o caminho lógico de análise do autor.

1.3) Leitura e documentação

Após a definição do levantamento bibliográfico, inicia-se a pesquisa propriamente dita, o momento da leitura, dos estudos, da documentação.

1.3.1) Plano provisório do trabalho
Estruturação inicial do trabalho, baseado nas idéias gerais. Essas idéias é que nortearão a leitura e a pesquisa que se iniciam.
1.3.2) A leitura de documentação
Leitura propriamente dita dos livros / documentos escolhidos, em busca dos elementos que se revelem importantes para o trabalho
1.3.3) Documentação
À medida que esses elementos vão surgindo, faz-se a documentação. Trata-se de tomar nota de todos os elementos que serão utilizados na elaboração do trabalho.

São os apontamentos, que servirão como matéria-prima para a construção do texto que será gerado pelo aluno.


1.4) Construção lógica do trabalho
Será a síntese, a coordenação lógica das idéias conforme as exigências do próprio trabalho. A ordem lógica do pensamento pode não coincidir com a ordem de descoberta e de intuição do autor.

1.5) Redação do texto
Consiste na expressão literária do raciocínio desenvolvido no trabalho. Guiando-se pelas exigências próprias da construção lógica, o autor vai tecendo a redação do projeto. Uma vez de posse do encadeamento lógico do pensamento, essa trabalho será apenas uma questão de comunicação literária. Recomenda-se uma revisão cuidadosa após a primeira redação, para correção tanto de problemas lógicos quanto de falhas literárias (comunicacionais).


1.6) Construção do parágrafo
Trata-se do volume propriamente dito do texto a ser empregado, da sua qualidade lógica, sua qualidade gramatical, sua eficiência em expressar o que o autor pretende comunicar.

Se a lógica está no comando de todo o projeto, é esperado que aqui, na produção do texto, ela também estabeleça o modo como a redação vai sendo construída.

Ou seja, o texto e a sua progressão precisam ser coerentes com a missão implícita do projeto, demonstrar algo a alguém.

Por esses e outros motivos recomenda-se que os parágrafos não sejam nem breves demais – o radicalismo, nesse caso, acontece quando cada frase abre um novo parágrafo –, nem longos demais – trechos tão extensos que dificultem tanto para o próprio autor quanto para o leitor a compreensão clara das idéias que vão sendo encadeadas.


2) Aspectos técnicos da redação

Apresentação gráfica geral do trabalho
De um ponto de vista geral, um trabalho científico contém as seguintes partes:

• Capa
• Página de rosto
• Sumário
• Lista de tabelas e figuras
• Núcleo do trabalho
Introdução
Desenvolvimento
Conclusão
• Apêndices e anexos
• Bibliografia
• Capa final



(3ª Aula)

Coesão e coerência textuais
L I Ç Õ E S DE T E X T O: L E I T U R A E R E D A Ç Ã O
Platão & Fiorin
Lição 24 – Coesão textual


COESÃO – conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto.
(fator não-suficiente de textualização)

Mecanismos de coesão:
1) coesão por retomada ou antecipação:
a) retomada (anafórico) ou antecipação (catafórico) por
uma palavra gramatical.
Ex.1: Ronaldo é mesmo um fenômeno. Ele se superou de novo. Desde que o craque começou a jogar no Corinthians, ninguém mais duvida dele. (anafóricos)

Ex.2: O Rei abrirá o show às 22 horas. Roberto Carlos é um dos raros artistas a celebrar 50 anos ininterruptos de carreira. (catafórico)

b) retomada por palavra lexical.
Retomar um termo substituindo-o por um:

Sinônimo – palavra de significado equivalente
Que aula enfadonha! Que aula chata!
Hiperônimo – relação contém / está contido
Flor é hiperônimo de rosa
Hipônimo – relação de está contido / contém
Rosa é hipônimo de flor.
Antonomásia – substituição de nome próprio por um nome comum ou vice-versa. Ninguém joga mais futebol do que o Rei já jogou!


2) coesão por encadeamento de segmentos textuais:

a) conexão – concatenação por conectores (relatores) discursivos.
termos que, em si mesmos, nada significam.
Ex.: João, quem sempre quis conhecer a Europa, partiu para a Itália.
Porém, ficará apenas 15 dias.

b) justaposição – estabelecimento da sequência textual com ou sem
sequenciadores.
Ex.: Acordaremos cedo. A caminhada é longa. Precisamos chegar à
próxima cidade antes do entardecer.

Ou seja, a coesão é o encadeamento linear das unidades linguísticas presentes no texto.
Ela auxilia no estabelecimento da coerência, mas não é imprescindível para que esta ocorra.

COERÊNCIA – relação que se estabelece entre as partes do texto, criando uma unidade de sentido.

Existem textos sem coesão (com falhas de articulação interna), mas não existem textos sem coerência (sem sentido).
Existe coerência em cada um dos níveis de organização do texto:

1. Coerência narrativa
Diz respeito às implicações lógicas presentes no texto.

Ex. de incoerência: As escolas públicas de 1º e 2º Graus encaminharam sua proposta de reforma da Língua Portuguesa, aprovada imediatamente pelo Governo.

2. Coerência argumentativa
Adequação entre pressupostos / afirmações e conclusões.
Ex. de incoerência: Já que todos os convocados vieram, melhor adiarmos a reunião.

3. Coerência figurativa
Diz respeito à compatibilidade entre as figuras do texto.
Ex. de incoerência: Assim que os chefes de Estado chegaram, o truco rolou solto.

4. Coerência temporal
Diz respeito à sucessibilidade dos eventos
Ex. de incoerência: A moça é um gênio: desenvolveu sua dissertação de mestrado em três meses e a tese de doutorado em mais três.


5. Coerência espacial
Compatibilidade entre os enunciados quanto à localização e ocupação espaciais.
Ex. de incoerência: Desenbarcaram em Belo Horizonte e foram logo conhecer as praias. Os 200 visitantes preferiram então fretar um ônibus turístico para conhecer outras cidades mineiras.

6. Coerência de nível de linguagem
Diz respeito à adequação da variantes linguística escolhida.
Ex. de incoerência: Senhoras e senhores, temos a satisfação de apresentar-lhes o nosso novo diretor de operações, tá ligado?
Os seis níveis mencionados podem se dar, juntos ou separados, em por meio de duas lógicas textuais associadas à idéia de “verdade”, que também podem ocorrer juntas ou separadas.

a) Coerência extratextual
Diz respeito à adequação do texto ao que lhe é externo, à realidade objetiva, exterior ao texto.
Ex. de incoerência: A ONU, sediada em Brasília, divulga ainda hoje seus relatórios sobre mortalidade infantil no Brasil.

b) Coerência intratextual
Concerne à não-contradição entre os enunciados do próprio texto, sua articulação interna, sua coerência interna.
Ex. de incoerência: O exército se prepara para a guerra, declarada. Os últimos preparativos para a festa de despedida dos soldados já foram resolvidos.

Certos textos podem valer-se da incoerência para criar efeitos de sentido.

Casal chega em casa, quando o marido apanha o extrato do cartão de crédito junto à porta:
– Você só pode estar brincando… Comprou outra roupa?!
– Eu estava precisando…
– É, você deve ter apenas umas mil peças… Estava precisando mesmo…



Argumentação
………………
………………
…………….
……………
…………..


Persuasão

X

Convencimento

Coerência


ARGUMENTAÇÃO

Persuadir – apóia-se em princípios, crenças, lugares comuns. Argumentação retórica.
Exemplos aplicação: publicidade, textos político-eleitorais, religiosos, ficcionais...
Convencer – apóia-se em fatos, estatísticas, “verdades”. Argumentação demonstrativa.
Exemplos de aplicação: textos acadêmicos, científicos, técnicos (ex.: jurídicos), jornalísticos...

Persuadir – levar à compreensão.
Convencer – explicar.
Posso ENTENDER a explicação de uma operação financeira.
Mas só posso COMPREENDER o que chamamos de amor, por exemplo, que não sei como explicar.
Como se vê, há vários modos de se SABER. Saber com a razão, com o “coração”, com a intuição, ..., e meu processo criativo pode passear livremente por todas essas instâncias do que chamamos de percepção.


“O Mundo Codificado”
(Vilém Flusser)

Originalmente escritos em alemão, os textos que seguem foram publicados em diversas línguas, sempre em forma de coletânea. Tomados isoladamente, funcionam muito bem e constituem pequenos clássicos em seus temas.
A organização de Rafael Cardoso (próximos slides) procurou fortalecer o conjunto, pela cadência progressiva de sua divisão temática: "Coisas", "Códigos" e "Construções", ou, se preferirmos, "conceitos básicos", "linguagem e comunicação", e "os problemas e as responsabilidades do designer".

Coisas
"Forma e material" mostra como as noções de forma e material tendem a aproximar-se das concepções forjadas a seu respeito na Grécia antiga, na medida em que nossas formas digitais (cálculos imateriais e eternos) estão para os objetos assim como a "verdade" das idéias estava para a materialidade das coisas.
"A fábrica" demonstra que a melhor forma de conhecer e reconhecer os homens reside em suas fábricas, isto é, em suas formas de produção, e sugere que as fábricas no futuro serão como escolas.
"A alavanca contra-ataca" mostra que os objetos funcionais que criamos nos devolvem o gesto que pedem de nós, moldando-nos à sua função, e que faz sentido, portanto, perguntar o que nos será devolvido de nossas criações funcionais que começam a adentrar o campo da biotecnologia.
"A não-coisa (1)" mostra como as bases materiais do novo tipo de informação com que lidamos (a informação digital) é desprezível do ponto de vista existencial, e como o nosso horizonte de interesses deve migrar rapidamente das coisas para as informações.
"A não-coisa (2)" indica que a imaterialidade e perenidade dessas informações podem significar o salto para fora do circuito vicioso da transformação da natureza em cultura e da cultura em lixo, mas alerta para a falsa liberdade oferecida pelos programas, que só permitem fazer aquilo que estão programados para fazer.
"Rodas" parte da constatação de que as rodas estão desaparecendo de nosso cotidiano. Mostra como a roda é a invenção que fraturou o destino, inventando a história e o progresso. E mostra como o próprio progresso se transformou em uma roda que desliza sem atritos, impossível de ser freada.
"Sobre formas e fórmulas" demonstra que só podemos explicar o mundo com os modelos que fazem parte do nosso "programa de vida", e, portanto, que é possível pregar "não somente uma, mas uma série de peças nesse programa vital", criando mundos verdadeiramente alternativos para vivermos, com o perigo de replicarmos o mito de Prometeu na inconsciência de nossas ações.
"Por que as máquinas de escrever estalam" constata que, "graças aos computadores, a beleza e a profundidade do cálculo tornaram-se perceptíveis aos sentidos", e que, por isso, "as pessoas deveriam de uma vez por todas aprender a contar" (leia-se: dominar os computadores em seus níveis mais básicos de cálculo, ou encarar o cálculo com outros olhos).

Códigos
"O que é comunicação?" demonstra que o homem se comunica não por ser sociável, mas por não suportar a condição de ser um solitário condenado à morte numa existência sem sentido, e que acumular informações é a conseqüência contranatural dessa condenação. A partir daí, Flusser analisa as duas formas básicas de acúmulo de informação – o discurso e o diálogo –, mostrando que o diálogo, tão escasso em nossos dias, é a forma privilegiada de produção de informações novas.
"Linha e superfície" compara o funcionamento do discurso linear do texto, que é decifrado à medida que é lido, e o discurso instantâneo da imagem, que pede decifração depois de ser percebido, mostrando como "a síntese da mídia linear com a de superfície pode resultar numa nova civilização".
"Mundo codificado", o ensaio que dá nome ao livro, aprofunda as conseqüências do predomínio das imagens no panorama atual das informações com as quais lidamos, comparando-o com o domínio das imagens no mundo mágico do homem pré-histórico e mostrando como esse discurso é, por sua própria natureza não-narrativa, anti-histórico. A constatação: "Não há paralelos no passado que nos permitam aprender o uso dos códigos tecnológicos" que estamos começando a utilizar.
"O futuro da escrita" demonstra como a escrita tornou-se um dispositivo a serviço da criação de imagens, e como as imagens passaram do estatuto de ilustração do mundo para o de ilustração de textos. Como a leitura das imagens é oposta à da narrativa textual, abre-se a crise e a necessidade de a escrita explicar não mais as imagens do mundo, mas as ideologias escondidas por trás das imagens tecnológicas.
"Imagens nos novos meios" intui o funcionamento da internet (ainda sem mencioná-la), mostrando o seu potencial de "neutralizar de um modo técnico o 'poder' político, econômico e social" das imagens de mão única.
"Uma nova imaginação" fecha a segunda parte recompondo a história da produção dos signos humanos, para melhor expor a natureza adimensional das novas imagens, que mal começamos a conceber: "primeiramente recuamos do mundo para poder imaginá-lo. E então nos afastamos da imaginação para poder descrevê-lo. Depois nos afastamos da crítica escrita e linear para podermos analisá-lo. E, finalmente, projetamos imagens sintetizadas a partir da análise, graças a uma nova imaginação."

Construções
"Sobre a palavra design" desmascara a "trapaça" que está por trás de toda técnica, toda arte e todo o design – enganar a natureza – demonstrando como esse ardil, ao mesmo tempo em que confere valor aos objetos, não se livra nunca de ser uma trapaça, que retira das coisas sua verdade e autenticidade para transformá-las em objetos falseados e, em última análise, descartáveis.
"O modo de ver do designer" usa a oposição entre tempo e eternidade para demonstrar como o olho do designer está sempre transportando formas e modelos "eternos" e "imutáveis", que intui e manipula, para a temporalidade – o que o aproxima dos antigos profetas mesopotâmicos.
"Design: obstáculo para a remoção de obstáculos" parte da palavra objeto ("problema", em grego) para mostrar como os objetos de uso são ao mesmo tempo, solução e obstáculo, e como "a cultura tende a se tornar objetiva, objetal e problemática". A saída para isso poderia estar no design imaterial e na responsabilidade para com o lixo.
"Uma ética do design industrial?" expõe três razões pelas quais é imperativo construir uma ética para a profissão: ausência de autoridade pública para estabelecer normas, diluição de responsabilidades na natureza cooperativa do design e diluição sobre a responsabilidade pelos objetos fabricados pelas máquinas. Aqui, o desinteresse dos designers pelo tema pode significar total ausência de responsabilidade.
"Design como teologia" fecha o livro, partindo do encontro entre as civilizações ocidental e oriental – em tudo opostas na atitude em relação à vida e à morte – que ocorre nos objetos industrializados de circulação mundial. Para entendê-los, seria necessário formular uma nova teologia, que unificasse essas civilizações e abrisse novas perspectivas de mundo.



Tudo aí.
Bjo
Daniela

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